CLIPPING DE 15/06/2013

Negócios sustentáveis pela ótica da integridade:
A corrupção costuma ser associada ao setor público, mas pesquisa da ICTS deixa claro que as empresas também convivem diariamente com o problema.
Por Paulo Itacarambi*
O jornal Valor Econômico publicou, nesta segunda-feira (10/6), matéria a respeito de uma pesquisa que nos deixa bastante preocupados com a possibilidade ou não de as empresas de fato implantarem uma gestão sustentável dos seus negócios.
Realizado pela ICTS, consultoria brasileira em gestão de riscos de negócios, o estudo “O Perfil Ético dos Profissionais nas Corporações Brasileiras” mostra que 80% deles convivem bem com a falta de ética. E detalha: desses 80%, 69% se declaram éticos dependendo das circunstâncias e 11% tendem a não cumprir as normas éticas da empresa. Outro dado relevante é que metade dos profissionais brasileiros se inclina a adotar atalhos antiéticos para atingir suas metas.
Outro número surpreendente é o dos que declararam que furtariam valores consideráveis (bens ou equipamentos de trabalho como laptops): 18%. O estudo destaca ainda que 38% desses funcionários aceitariam receber dinheiro para favorecer um fornecedor.
O levantamento foi realizado com mais de 3.000 profissionais de 45 empresas do país, metade dos quais ocupavam cargos de gestão e a outra metade, cargos técnicos e operacionais. O estudo resultou numa alarmante conclusão: a falta de alinhamento e comprometimento com a ética da empresa pode acontecer em qualquer grupo ou nível hierárquico.
Comumente, a corrupção é associada ao setor público, mas essa pesquisa deixa claro que as empresas também convivem diariamente com esse problema. Partindo dessa constatação, surge o impasse: como uma empresa conseguirá ter um negócio sustentável e responsável se os seus funcionários não forem socialmente responsáveis?
A resposta é que ela não consegue. E o ponto central dessa questão está na formalização, divulgação e prática de valores éticos dentro das empresas. Mas como fazer com que os valores não fiquem apenas escritos em publicações e quadros, mas orientem de fato as tomadas de decisão?
Existem alguns caminhos para isso. Um começo pode ser a criação de uma política de sustentabilidade, que deverá basear-se na ética e na transparência em todas as esferas e camadas sociais.
Outro passo importante é a elaboração de um código de ética, com a participação dos funcionários, ou de um manual de conduta. Para que esse código faça sentido dentro da empresa, os líderes devem dar o exemplo, além de reforçar e divulgar constantemente comportamentos exemplares. Na pesquisa mencionada, constatou-se que 33% dos gestores usariam dados confidenciais da companhia para tirar proveito próprio ou favorecer terceiros em prejuízo da empresa. Isso deixa claro que o exemplo deve vir da liderança, acima de tudo. Uma coisa é estabelecer sistemas de valores e outra é dar exemplos. De nada adianta uma empresa ter uma série de condutas pré-estabelecidas se nem seus altos executivos, os mesmos que estabeleceram e aprovaram tais regras, as cumprem. É preciso que todos o façam para que os funcionários se sintam motivados a também fazê-lo.
Afinal, uma empresa só é bem-sucedida se coloca todos numa mesma direção. É preciso criar uma colaboração entre as pessoas, e a base dessa colaboração são os valores.
Além disso, devem ser criados canais de reclamação, como ouvidorias e comitês de ética, para que os funcionários possam comunicar atos de corrupção ou qualquer comportamento que não esteja alinhado aos valores da empresa.
Com ações como essas, as empresas começam a se firmar um pouco mais no caminho dos negócios sustentáveis. Mas elas podem dar um passo além ao colaborar com a sociedade em que estão inseridas, ajudando na construção de políticas públicas e participando de grupos e ações anticorrupção. Como é o caso do Pacto Empresarial pela Integridade e contra a Corrupção, que tem mais de 500 empresas signatárias, comprometidas com um conjunto de diretrizes e procedimentos estabelecidos.
Entre o que foi pactuado pelas empresas participantes está a elaboração e aprovação de um código de conduta ou políticas de integridade que expressem de forma inequívoca as políticas adotadas em relação a sistemas de integridade e combate à corrupção dentro da empresa.
Para gerar conhecimento em torno do pacto empresarial, o Instituto Ethos criou o Grupo de Trabalho pela Integridade e Combate à Corrupção, que desde 2007 trabalha arduamente com essas questões e procura promover entre as empresas o aprendizado por meio da disseminação de práticas que deram certo e que as auxiliaram a trilhar esse caminho.
O GT lançou ainda publicações que auxiliam as empresas a formular e implantar um código de ética e entender como se dá todo esse processo. A publicação Formulação e Implantação de Código de Ética em Empresas – Reflexões e Sugestões discute meios de como fazer com que a equipe incorpore o código de ética e o assuma em suas atividades cotidianas.
Outra iniciativa que ajuda as empresas a estabelecer seus valores para seus públicos e para a sociedade é o Cadastro Nacional de Empresas Comprometidas com a Ética e a Integridade – Cadastro Empresa Pró-Ética –, uma iniciativa da Controladoria-Geral da União e do Instituto Ethos que avalia e divulga as empresas voluntariamente engajadas na construção de um ambiente de integridade e confiança nas relações comerciais, inclusive naquelas que envolvem o setor público.
O Cadastro Empresa Pró-Ética dá visibilidade às companhias que compartilham a ideia de que a corrupção é um problema que deve ser prevenido e combatido não só pelo governo, mas também pelo setor privado e pela sociedade. Ao aderir ao Cadastro Empresa Pró-Ética, a organização assume o compromisso público e voluntário, perante o governo e a sociedade, de adotar medidas para prevenir e combater a corrupção dentro de sua instituição, em favor da ética nos negócios.
Além do reconhecimento público, a empresa terá também o benefício de contar com atenuantes previstas na Lei de Responsabilização da Pessoa Jurídica, caso venha a ocorrer algum problema que não consiga evitar.
Um caso prático
A Samarco, empresa do setor de mineração, tem um caso de boas práticas sobre o combate à corrupção que vale ser citado por ter mobilizado todos os seus colaboradores.
Em junho de 2002, quando completou 25 anos, a empresa publicou pela primeira vez seu código de conduta – um conjunto de normas e princípios éticos a serem adotados por todos os profissionais ao estabelecer relações com seus diferentes públicos de interesse. A essência do documento traz políticas e práticas que foram adotadas pela gestão: o caráter colaborativo e a visão de longo prazo, ambos focados no desenvolvimento sustentável da companhia.
O código passa por revisões anuais e é entregue a todos os funcionários (independentemente de cargos hierárquicos), às empresas contratadas e aos fornecedores, os quais assinam um termo comprometendo-se a respeitá-lo assim que o recebem.
Desde 2008, os funcionários da Samarco são convidados a participar das revisões do código, modelo de governança que confere maior transparência ao documento e ao mesmo tempo revigora o sentimento de pertencimento de toda a organização, colaborando para a motivação de todos no cumprimento das ações.
Mas seus funcionários sempre foram envolvidos em todo o processo. Para a elaboração do seu código de conduta, a Samarco promoveu debates e diálogos com seus empregados e definiu uma comissão para coordenar o trabalho. A empresa consultou também outros códigos de ética e teve o apoio de uma assessoria especializada na área de recursos humanos.
Hoje, a postura da empresa é monitorada pela ouvidoria, que atua como um canal acessível para quem deseja tratar de questões delicadas, como denúncias sobre comportamento inadequado ou abuso de poder. O ouvidor, também chamado de ombudsman, é o profissional encarregado de receber as reclamações e investigá-las.
* Paulo Itacarambi é vice-presidente executivo do Instituto Ethos.

CLIPPING DE 14/06/2013

Assine carta aberta sobre direitos dos povos indígenas:
Lançada pelo Instituto Ethos durante seminário sobre direitos humanos, a carta ficará disponível para adesão de empresas e organizações até 20 de junho. 
O Instituto Ethos realizou, em 11 de junho de 2013 o Seminário “Direitos Humanos e Mecanismos de Reclamação e Diálogo”, evento que teve como objetivo promover o debate a respeito da disponibilização de canais de diálogo e reclamação para as partes interessadas, item fundamental para a devida diligência sobre o respeito aos direitos humanos pelas empresas e também pelo Estado.
A mesa “Regulamentação da Convenção 169 da OIT e da Constituição Federal em Relação à Consulta a Comunidades Indígenas – Situação Atual e Desafios Futuros” promoveu um debate fundamental para que o Brasil possa avançar na agenda da garantia dos direitos humanos dos povos indígenas, trazendo importantes contribuições sobre a relação dessa agenda com a perspectiva mais ampla da consolidação da democracia, dos direitos humanos e do caminho para o desenvolvimento sustentável.
Ao final da mesa, o Instituto Ethos lançou a “Carta Aberta ao Governo Brasileiro sobre os Direitos dos Povos Indígenas e o Desenvolvimento Sustentável do País”, documento que reúne uma série de recomendações ao governo brasileiro no sentido de garantir os direitos humanos dos povos indígenas, indicando que isso é fundamental para o desenvolvimento sustentável do país.
A carta aberta busca sintetizar as reflexões e contribuições do seminário sobre esse tema, com o objetivo de levá-las ao governo federal.
Sua empresa ou organização está convidada aderir aesse documento. Para isso, basta enviar uma mensagem para Mariana Parra (mariana@ethos.org.br), coordenadora de projetos do Instituto Ethos, declarando sua adesão. As adesões serão recebidas até 20 de junho de 2013.
A “Carta Aberta ao Governo Brasileiro sobre os Direitos dos Povos Indígenas e o Desenvolvimento Sustentável do País” será enviada ao governo federal por meio da Secretaria-Geral da Presidência da República,  que foi representada no seminário por Juliana Miranda, secretária-adjunta da Secretaria Nacional de Articulação Social.
Para acessar o documento, clique aqui.

CLIPPING DE 13/06/2013

Ethos apresenta na Câmara dos Deputados atuação com as empresas na PNRS:
Em seminário promovido pela Comissão de Meio Ambiente, Jorge Abrahão falou sobre a estratégia para apoiar a implantação da PNRS nas atividades empresariais
Na última quinta-feira, 6 de junho, Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos, participou do seminário “Desafios para a Implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos”, a convite da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, promotora do evento.
O seminário é preparatório para a 4ª Conferência Nacional do Meio Ambiente (CNMA), organizada pelo Ministério do Meio Ambiente, a qual será realizada entre os dias 24 e 27 de outubro de 2013, com a tarefa de contribuir para a implantação da Lei nº 12.305/2010, que disciplina a Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS).
Como palestrante do painel “Produção e Consumo Sustentáveis”, Jorge Abrahão falou sobre a estratégia de atuação do Instituto Ethos com as empresas no que diz respeito à implementação da PNRS em todo o país.
O Ethos e seus parceiros vêm atuando na agenda de resíduos sólidos, de forma mais sistemática, desde 2007, quando foi lançada a publicação Vínculos de Negócios Sustentáveis em Resíduos Sólidos, que relaciona a gestão de resíduos sólidos com oportunidades de negócios inclusivos e sustentáveis, focando na redução de impactos ambientais aliada à inclusão e geração de renda para cooperativas de catadores de materiais recicláveis.
Com a promulgação da PNRS, em 2010, que estabeleceu o ano de 2014 para sua plena implementação, o foco do Ethos se concentrou na sensibilização, mobilização e articulação de empresas para contribuir com isso.
Em 2011, constituiu-se o Grupo de Trabalho de Empresas e Resíduos Sólidos, que se iniciou no âmbito do Fórum Empresarial de Apoio à Cidade de São Paulo e em 2013 passou a atuar nacionalmente, alinhado à estratégia do Programa Cidades Sustentáveis, na perspectiva de construir compromissos voluntários para avançar na implementação da PNRS nas atividades empresariais, sobretudo a logística reversa, e refletir sobre as políticas públicas necessárias para se desenvolver um ambiente de mercado favorável.
Em 2013, o GT formulou a Carta de Compromissos “Empresas pela Gestão Sustentável de Resíduos Sólidos”, com foco em práticas empresariais e políticas públicas, a qual foi lançada em maio, com a adesão de mais de 60 empresas,  sendo entregue ao Ministério do Meio Ambiente e às secretarias de Meio Ambiente do Estado de São Paulo e da capital paulista. O grupo também está realizando estudos visando apontar a necessária harmonização das políticas locais de resíduos sólidos com a PNRS.
No seminário promovido pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara, Abrahão destacou um dos compromissos assumidos pelas empresas signatárias dessa carta, o qual tem impacto direto no debate sobre produção e consumo sustentável: as empresas engajadas se comprometem a elaborar um plano de gerenciamento integrado de resíduos sólidos pós-consumo que leve em conta a ordem de prioridade estabelecida pela PNRS: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.
Não gerar, reduzir, reutilizar, reciclar e evitar a geração de resíduos são estratégias centrais para promover a produção sustentável e mais limpa, aumentando a ecoeficiência e reduzindo os riscos ao meio ambiente e ao homem”, comentou o presidente do Ethos.
De acordo com ele, a gestão sustentável de resíduos sólidos é uma oportunidade única, em que a redução dos impactos ambientais proporciona negócios que ativam uma economia inclusiva nos ambientes urbanos, que são os principais territórios da produção e do consumo.
Mas de que forma as empresas podem contribuir para o cumprimento de metas das cidades na gestão de resíduos sólidos? “Nessa perspectiva, os desafios para as empresas são identificar oportunidades de negócios sustentáveis a partir das metas de coleta seletiva e logística reversa, mobilizar sua cadeia de valor para atuar no mesmo sentido e incentivar e estimular seus funcionários e colaboradores a adotarem um estilo de vida mais sustentável”, responde Abrahão.
Para ele, o gerenciamento dos resíduos sólidos ocupa um espaço relevante nas práticas de responsabilidade social empresarial. Novas tecnologias criam alternativas para a implantação de estratégias de ecoeficiência que podem reduzir a geração de resíduos sólidos no setor industrial e no de serviços, além de minimizar os impactos ambientais.
“Os desafios para as empresas e para a sociedade são enormes e serão superados com o apoio decisivo de novas políticas que incentivem e induzam à inovação, à redução de custos, à geração de empregos e a mudanças culturais e comportamentais”, concluiu.
Por Benjamin Gonçalves, do Instituto Ethos

CLIPPING DE 12/06/2013

Felicidade, consumo e sustentabilidade:
Interessante como a felicidade entrou em cheio nas discussões não apenas das pessoas, mas também dos economistas, das empresas e dos governos.
Por Paulo Itacarambi*
Uma grande rede de supermercados lançou um comercial baseado numa trilha sonora que pergunta: “O que você faz para ser feliz?”. E, enquanto rola a música, aparecem imagens de almoços em família, encontros de namorados, brincadeiras de crianças etc. E a letra lembrando que pra ser feliz é só começar.
Interessante como a felicidade entrou em cheio nas discussões não apenas das pessoas, mas também dos economistas, das empresas e dos governos. Esta semana mesmo, tanto no Facebook quanto na mídia, apareceram matérias dando conta de como jovens e mais velhos estão optando por estilos de vida mais simples e como essas opções já estão virando tendências que entram nos cálculos das indústrias.
Chamou a atenção o relato de uma jornalista brasileira que mora em Barcelona, cujos pais, em São Paulo, considerados de alta classe média, optaram por um estilo de vida mais simples depois de visitarem a filha na Espanha. Ao voltarem à capital paulista, mudaram-se para um apartamento menor e mais central, venderam carros, móveis, roupas e estão vivendo com bem menos e muito melhor. O estilo de vida baseado no “ter” acaba sendo uma escravidão, concluiu a jornalista, na matéria em que descreve a transformação dos pais.
Um caso que demonstra a tendência já adotada por algumas centenas de milhares de pessoas na Europa e nos Estados Unidos e que aos poucos se espalha pelo Brasil.
Não são poucos a se perguntar se essa transformação ocorre por necessidade ou por convicção. Algumas pesquisas divulgadas recentemente indicam que a mudança é pra valer.
Felicidade é…
Um recente artigo no jornal The New York Times mostrou que os jovens entre 18 e 24 anos estão se importando mais com os outros e com o mundo em que vivem, superando antigos valores e necessidades de consumo que já não os satisfazem. Um exemplo é o carro, que já não representa mais o ideal de liberdade. Esse ideal de liberdade hoje é representado pela capacidade de se relacionar com os outros.
Essa tendência de valorizar os relacionamentos pode ser verificada também no Brasil. A mais recente pesquisa do Instituto Akatu – Rumo à Sociedade do Bem-Estar – mostra que o brasileiro relaciona o bem-estar muito mais ao convívio social do que ao consumo. Ser feliz é: estar com a família; ter amigos e relacionar-se bem com eles; e ter saúde. A tranquilidade financeira é entendida como atendimento às necessidades básicas para uma vida decente: boa alimentação, educação, saúde, lazer. Acima disso, o dinheiro e as posses materiais, para o brasileiro, não trazem felicidade.
Um exemplo é o tema “afetividade”. Para a maioria dos que responderam a pesquisa, ela representa “passar mais tempo com a família e os amigos” do que “comprar presentes”. Essa preferência ocorreu em todas as classes sociais.
Então, será que as pessoas comuns já têm aberta a visão para uma profunda redistribuição de riquezas que permita acabar com a desigualdade?
É difícil saber. Porque a desigualdade não se manifesta apenas no nível de consumo, mas na educação, na cultura, no acesso às oportunidades e aos recursos, que são finitos e escassos.
Como fazer essa redistribuição?
Tradicionalmente, os países que lograram alcançar níveis mais igualitários entre seus cidadãos usaram de políticas públicas de incentivo ao consumo e de ampliação de acesso aos serviços públicos, com a inclusão de milhões de pessoas nas redes de educação, saúde e seguridade social, entre outras. Assim, surgiram cidadãos que exigem boas condições de trabalho e de vida. E bons produtos e serviços para consumir.
Esse modelo entrou em colapso no momento em que o consumo se sobrepôs ao bem-estar e o individualismo começou a falar mais alto que o sentido do coletivo. Chegamos ao ponto atual, com bilhões de excluídos para que poucos consumam muito e levem à exaustão os recursos finitos do planeta.
É preciso inventar outra forma de distribuir riquezas sem exaurir o planeta, mas garantindo a cada ser humano o necessário para uma vida digna, sem prejudicar a vida na Terra.
Isso é possível?
É o que a sustentabilidade está buscando provar. Sustentabilidade não é uma ciência exata nem um conceito acabado. Podemos considerar que é tudo o que dá sustentação à vida, mas a solução encontrada para um caso pode não servir para outro.
Deixar de andar de carro pode ser bom em Barcelona, que tem bom transporte público para todas as classes sociais, mas, em São Paulo, não será sustentável para o morador da Zona Leste, que perde quatro horas em ônibus, enquanto de carro faz o trajeto em duas horas.
O custo de vida é mais baixo nos países em que os serviços públicos funcionam melhor. Mas é nesses países que os salários são maiores.
Encontrar o equilíbrio entre renda, serviços públicos e sensação de bem-estar (que é individual) talvez seja o pulo do gato para o modelo de sustentabilidade que se busca construir.
As dicas podem ser garimpadas em todos os movimentos que envolvam a cidadania, como a Virada Sustentável, que se realiza em São Paulo.
A Virada Sustentável cria, sobretudo durante os dias em que é realizada, uma oportunidade para cidadãos se informarem e se engajarem sobre os temas da sustentabilidade e colocá-los em prática nos demais dias do ano. A abordagem positiva com que a Virada trata o assunto é fundamental para gerar o envolvimento das pessoas. É desse envolvimento que surgirá a criatividade e a ousadia para se construir o novo mundo de que precisamos.
Ontem (6/6), tivemos a primeira roda de conversa da série “Conta Aí”, com personalidades que atuam para transformar São Paulo numa cidade mais sustentável. O objetivo é promover bate-papos descontraídos com essas pessoas, que vão compartilhar sua trajetória de vida e sua atuação profissional com os espectadores e, dessa maneira intimista e informal, alertá-los sobre a sustentabilidade e o quanto podem contribuir.
Nesse primeiro bate-papo, Caco de Paula, do Planeta Sustentável, José Bueno, do Rios e Ruas, Wellington Nogueira, da Doutores da Alegria, e eu compartilhamos nossas histórias e refletimos sobre a sustentabilidade nos dias de hoje. Por meio dos nossos relatos tivemos a oportunidade de pensar sobre a questão de rios urbanos e a maneira como tratamos esses rios.
Também fomos levados a refletir sobre a maneira como as crianças enxergam a modernidade (com cidades cheias de prédios e carros), o que nos leva ao seguinte questionamento: as pessoas vão criar no futuro o que elas projetam em suas mentes hoje; então, como ensinar nossas crianças a ter uma visão mais sustentável sobre o futuro? Refletimos ainda sobre a felicidade em si e sobre o quanto nos perdemos em tarefas cotidianas e, com essa correria, acabamos desperdiçando nossa saúde e o papel da educação e da cultura, dentro e fora dos muros escolares.
Com diálogos descontraídos assim, tivemos a oportunidade de enxergar a sustentabilidade como um todo e pensar no nosso papel em tudo isso. Uma importante atividade para termos a virada sustentável de que tanto precisamos.
* Paulo Itacarambi é vice-presidente executivo do Instituto Ethos.

CLIPPING DE 11/06/2013

Governo brasileiro assume que perfil de emissões de carbono mudou:
O desmatamento diminuiu, mas outras atividades estão tomando seu lugar. Os principais emissores hoje são o setor de energia, a indústria e a agricultura.
Por Jorge Abrahão*
Nesta quarta-feira (5/6), Dia Mundial do Meio Ambiente, o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, do qual o Instituto Ethos faz parte, reuniu-se em Brasília, com a presença da presidenta Dilma Rousseff, da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, do ministro da Ciência e Tecnologia, Marco Antônio Raupp, e de outras autoridades e representantes de entidades.
A presidenta Dilma reconheceu que há uma mudança no perfil das emissões do país. Aquelas oriundas do desmatamento diminuíram bastante – e esse é um fato a comemorar. Todavia, emissões provocadas por outras atividades estão tomando o lugar do desmatamento, fazendo o Brasil ainda ser um grande emissor de carbono. Três são os principais emissores atualmente: energia, indústria e agricultura.
Na energia, a matriz hidrelétrica é limpa quando as usinas possuem represas. Mas não estamos conseguindo construir hidrelétricas com reservatórios, por conta das questões ambientais,Se continuarmos construindo usinas sem reservatório, como no caso de Belo Monte, e continuarmos dependendo majoritariamente de hidrelétricas, a capacidade dessas usinas, quando os rios estiverem nos períodos de menor vazão, terá de ser compensada por energia de termelétricas, que são altamente poluidoras.
O dilema, segundo Dilma, é que o Brasil precisa crescer e preservar o meio ambiente, distribuindo renda, e não fará isso sem energia. Como resolver? Com inovação. Por isso, o governo federal lançou um programa de R$ 3 bilhões em pesquisa e desenvolvimento de inovação em energia, para que surjam soluções limpas que permitam ao país crescer com sustentabilidade.
Outro setor que faz do Brasil um campeão de emissões é a indústria. A Política Nacional de Mudanças do Clima estabeleceu planos setoriais para que o país reduzisse em até 38% as suas emissões até 2020. Hoje, a indústria apresentou seu plano de redução de emissões e estabeleceu a meta de 5% ao ano até 2020. Mas esse número pode não exigir nenhum esforço criativo ou transformador da indústria, uma vez que ele partiu da premissa de que o país cresceria 5% ao ano. Como isso não está ocorrendo, as emissões estão diminuindo por si sós.
Esse quase acomodamento pode trazer consequências desastrosas para a competitividade dos produtos brasileiros, uma vez que outros países estão avançando decididamente na descarbonização de processos, produtos e serviços.
A agricultura, que também é uma das grandes emissoras de carbono do país, conta com o Plano Agricultura de Baixo Carbono (ABC), o qual tem como objetivo incentivar a adoção de técnicas agrícolas sustentáveis que contribuam para a redução das emissões de gases de efeito estufa e ajudem na preservação dos recursos naturais.
São seis as iniciativas apoiadas pelo Programa ABC que visam contribuir para a preservação do meio ambiente e para a sustentabilidade da produção agropecuária:
• Plantio direto na palha;

• Recuperação de pastos degradados;

• Integração lavoura-pecuária-floresta;

• Plantio de florestas comerciais;

• Fixação biológica de nitrogênio; e

• Tratamento de resíduos animais
* Jorge Abrahão é presidente do Instituto Ethos.
Na foto: Reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, em 5/6, em Brasília.

Crédito da foto: Wilson Dias/Agência Brasil

CLIPPING DE 10/06/2013

Como as empresas classificadas no índice de sustentabilidade empresarial 2011 abordam o tema sustentabilidade em seus relatórios financeiros?:
Artigo aceito para a Vª Gecamb, conferência da Universidade de Coimbra – Portugal, realizado em 2012.

Autores:
Ana Cristina Silva Abreu é bacharel em Ciências Contábeis (UFSC) e Graduanda em Direito (CESUSC).
André Carlos de Souza: Acesse seu currículo lattes aqui
José Alonso Borba: Acesse seu currículo lattes aqui
RESUMO
O presente estudo faz uma análise das formas de abordagem do tema Sustentabilidade pelas companhias pertencentes ao ISE, através de seus relatórios financeiros anuais referentes ao ano de 2011 sob o seguinte aspecto: Frequência de menções aos termos referentes à sustentabilidade, dentre os documentos de divulgação obrigatória exigíveis pela CVM (Notas Explicativas, Relatório da Administração e Formulário de Referência) ou de divulgação arbitrária (Relatório Anual, Relatório de Sustentabilidade e Balanço Social). Paralelamente, observou-se como são – e se são – apresentadas definições para o que significaria o conceito Sustentabilidade no contexto destes relatórios. Para proceder na análise do teor dos textos conceituais emitidos pelas empresas, fez-se um exame prévio de três abordagens sobre o tema: Relatório Brundtland, Triple Bottom Line e Sustentabilidade Corporativa. Trata-se, essencialmente, de uma análise descritiva dos resultados. Observou-se que a ocorrência de palavras-chave nestes relatórios é vasta, de forma, em média, pode haver mais de uma menção por página de documento. Contudo, apesar de mencionar o termo, a palavra sustentabilidade nem sempre foi conceituada pelas empresas; quando foi, a empresas invariavelmente utilizaram os preceitos do Triple Bottom Line.
  1. INTRODUÇÃO
Em decorrência da utilização dos recursos naturais pelo homem de maneira irrestrita, ou pelo impacto irreparável na natureza gerado por certas atividades, evidencia-se uma tendência crescente – e preocupante – de degradação do meio ambiente. Campanhas pelo racionamento de uso dos recursos naturais como economia de água, energia elétrica, entre outros programas educativos amplamente divulgados e direcionados à população – a exemplo do próprio portal do governo federal na rede mundial de computadores, que possui uma seção específica relativa ao “consumo consciente” (Portal Brasil, 2011) – fazem parte do rol de ações em prol da defesa deste bem maior.
A sociedade, diante da informação difundida pelos meios de comunicação, adquire conhecimento do impacto devido a exploração dos bens naturais de maneira irresponsável. Consequentemente, sociedade e governo viram-se estimulados a adotar posicionamentos sobre o tema. Conscientes do peso da opinião pública sobre o assunto, grandes empresas perceberam que a sustentabilidade deveria ser um valor expressamente adotado na conduta corporativa e, consequentemente, registrado em suas vias de divulgação, tanto no âmbito da exigibilidade normativa como, ainda com maior frequência, associado à imagem/marketing da companhia. Ainda, como instrumento motivador, instituições diversas incorporaram critérios de classificação de empresas com valores de sustentabilidade evidentes, por exemplo, o Dow Jones Sustainability Indexes, iniciativa pioneira da Dow Jones & Company, lançado em 1999 (Dow Jones, 2011b). A exemplo do DJSI, primeiro índice de referência em sustentabilidade global, outras instituições adotaram o uso de indexadores próprios referentes ao assunto.
A BM&FBOVESPA acompanhou esta tendência e criou o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), índice referencial para compor carteira de ações personalizada, constituída somente por empresas comprometidas com a responsabilidade social, sustentabilidade empresarial e com atuações no sentido de promover boas práticas no meio corporativo (BM&FBOVESPA, 2011a) brasileiro. Sendo a sustentabilidade fator determinante na elegibilidade de empresas para compor tal índice, presume-se que tais companhias conceituem de maneira plena a essência deste termo e termos diretamente correlatos.
Este trabalho buscou averiguar se as empresas, através de relatórios financeiros exigíveis pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e relatórios de divulgação arbitrária, apresentam conceituações para a terminologia supracitada, se o fazem com base nas referências base sobre o tema e com que frequência tais termos aparecem em seus relatórios. O objetivo geral deste estudo consiste na identificação de conceitos de sustentabilidade e a frequência na qual estes termos aparecem, pelas companhias integrantes do ISE 2011, através de pesquisa nos seus relatórios financeiros, obrigatórios e voluntários; ainda, na verificação do teor destes conceitos em face às definições mais difundidas sobre o tema.
2. Sustentabilidade
A sustentabilidade, sob a ótica semântica, é disposta como a “qualidade de sustentável”, “que se pode sustentar” ou ainda “capaz de se manter mais ou menos constante, ou estável, por longo período” (Ferreira, 2004). Observa-se, ainda, que não há uma aplicação restrita ao meio ambiente.  Bell e Morse (2008, p.10) comentam essa falta de uma definição concreta para o termo e faz a seguinte pergunta: “Como algo tão vago pode ser tão popular?” Veiga (2005) conceitua sustentabilidade basicamente sob a óptica ambiental, tratando da preservação da natureza e limitação do usos de recursos naturais Epstein (2008) cita 9 princípios da performance sustentável, admitido pelo autor como sendo uma definição ampla de sustentabilidade. Os princípios são: Ética, Governança, Transparência, Relacionamentos de negócios, Retorno financeiro, Desenvolvimento econômico, Valor de produtos e serviços, Práticas de trabalho e Proteção ao ambiente. Nota-se que apenas um dos princípios tem aplicação restrita ao meio ambiente. Para fins de explanação sobre o termo de forma mais específica, vê-se, a seguir, três pontos de vista mais complexos e de caráter doutrinário sobre o tema: o Relatório Brundtland, o Triple Botton Line e a Sustentabilidade Corporativa.
O Relatório Brundtland, publicado em 1989, é resultado da Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), criada em 1983, em assembleia geral da ONU. Este documento, também chamado de Nosso Futuro Comum, tornou-se referência ao consolidar a expressão “desenvolvimento sustentável” – que veio a influenciar convenções posteriores sobre o tema – e é frequentemente difundida entre outros autores, ao apresentar a seguinte definição para o termo: “O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades” (CMMAD, 1991). Essa mesma obra também elenca quais seriam estas estratégias, além de apresentar uma súmula de princípios para proteção ambiental e desenvolvimento sustentável.
O conceito do Triple Botton Line traduz a sustentabilidade num conjunto de ações que envolvam três aspectos, de forma concomitante e em equilíbrio: ambiental, social e econômico. Barbieri e Cajazeira (2011) mencionam o conteúdo da obra “Canibais de Garfo e Faca”, para explicar o funcionamento do modelo.  Sua base requer resultados positivos nas três dimensões supracitadas. De forma prática, considera-se que há relação de interdependência da sociedade com a economia, e ambos, com o ecossistema global. No entanto, há dúvidas quanto à eficiência prática deste modelo; ainda, se esta ideia é apenas metafórica. Evidencia-se, por exemplo, que não é possível concluir a existência de uma “linha” social, e que a metodologia proposta traduz-se em resultados enganosos (Norman e MacDonald, 2011). Restringindo-se ao aspecto conceitual, o triple bottom line, em suma, versa sobre o equilíbrio de elementos, sob a ótica de pilares; quando em harmonia, promovem a sustentabilidade.
A Sustentabilidade Corporativa, tradução literal do termo Corporate Sustainability, é difundido por Dow Jones (2011a): “Sustentabilidade Corporativa é a visão de negócios que cria valor a longo prazo aos acionistas, através do aproveitamento de oportunidades e gerenciamento dos riscos inerentes ao desenvolvimento econômico, ambiental e social”. Percebe-se influência direta do conceito Triple Bottom Line, especialmente quanto ao uso dos elementos econômico, social e ambiental. No entanto, diferencia-se na abordagem, claramente, voltada ao ambiente empresarial de uma forma mais ampla, pois associa sustentabilidade à “criação de valor” e gerenciamento de custos e riscos. Segundo o autor, os aspectos qualitativos da estratégia  de uma empresa, gestão e desempenho ao lidar com os riscos decorrentes do desenvolvimento econômico, ambiental e social podem ser quantificados; desta forma, utilizados como parâmetro para identificar e selecionar as principais empresas pra fins de investimento neste sentido. A sigla ISE possui referência análoga a este termo.
2.1   ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial da BM&FBOVESPA
O índice, iniciativa da BM&FBOVESPA – em associação com as instituições ABRAPP, ANBIMA, APIMEC, IBGC, IFC, Instituto ETHOS e Ministério do Meio Ambiente – originou-se da crescente demanda de investidores atentos aos aspectos de responsabilidade social e ambiental das empresas listadas, como forma de ponderação para aplicarem seus recursos. Há uma tendência neste sentido em relação aos próprios valores da sociedade, portanto, é natural que o mercado passe a acompanhar tais preceitos, chamados de “investimentos socialmente responsáveis” (SRI). Para cumprir com esta finalidade, o ISE é composto por ações de empresas que, declaradamente, atendem aos requisitos necessários, conforme metodologia própria. Tais métodos foram elaborados pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (CES-FGV), contratada pelo Conselho da BM&FBOVESPA, com base em aplicação de questionários de desempenho entre suas ações mais negociadas. Questiona-se, essencialmente, sobre aspectos ambientais, sociais e econômico-financeiros, de forma integrada, analogamente ao Triple Bottom Line, e outros indicadores complementares: critérios gerais (publicar balanços sociais e/ou posição da empresa perante acordos globais); de natureza do produto (se acarreta em danos e/ou riscos à saúde); e de governança corporativa (BM&FBOVESPA, 2011b). A revisão destes índices é anual, portanto, renovam-se as ações e empresas ao final de cada período.
2.2  Relatórios Financeiros
São documentos emitidos pelas companhias, compulsoriamente – quando se tratar de exigência da CVM – ou voluntariamente, por entender que o investidor, ou qualquer outro usuário, requer informações adicionais, não cabíveis naqueles obrigatórios. A Figura 1 discrimina os relatórios de caráter obrigatório relevantes para a pesquisa, acompanhados de uma breve noção sobre o conteúdo e características de cada um destes: Notas Explicativas (NE); Relatório da Administração (RAD); Formulário de Referência (FR).
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Figura 1 – Relatórios Financeiros Obrigatórios
Fonte: elaborado pelos autores.
De forma análoga, a Figura 2 discrimina quais os relatórios de emissão voluntária relevantes para a pesquisa, acompanhados de uma breve noção sobre o conteúdo e características de forma individual. São estes: Relatório Anual (RAN); Relatório de Sustentabilidade (RS); Balanço Social (BS).
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Figura 2 – Relatórios Financeiros Voluntários
Fonte: Elaborado pelos autores.
Oportuno ressaltar que não são estes os únicos relatórios financeiros emitidos pelas companhias de capital aberto, obrigatórios ou voluntários; As DFP compreendem outras Demonstrações não utilizadas na pesquisa. Ainda no âmbito das exigibilidades, apenas foram listados os relatórios anuais, excluindo-se as Informações Trimestrais. Quanto aos de caráter voluntário, buscou-se uma padronização e apenas aqueles três (RAN, RS e BS) foram incluídos na pesquisa.
2.3  Trabalhos Anteriores
Como instrumento de suporte para a presente pesquisa, buscou-se referências em resultados obtidos anteriormente sobre assuntos de considerável relevância. Os que atenderam a este critério da melhor forma apresentam-se na Figura 3.
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Figura 3 – Pesquisas em conceito de sustentabilidade e busca de expressões relacionadas.
Fonte: Elaborado pelos autores.
3. METODOLOGIA DE PESQUISA
3.1  Coleta de Dados
Para buscar o conceito de sustentabilidade na população estudada, que são as 38 companhias que integram o ISE de 2011, requer-se pesquisa documental, neste caso, a utilização dos relatórios financeiros das empresas como instrumento de pesquisa. Foram utilizadas as seguintes informações financeiras de divulgação compulsória, conforme exigibilidade da CVM: Notas Explicativas (NE), Relatório da Administração (RAD) e Formulário de Referência (FR). Somam-se a estes, quando disponíveis, os seguintes relatórios voluntários: Relatório Anual (RAN), Relatório de Sustentabilidade (RS) e Balanço Social (BS). No caso de ambiguidade quanto à denominação destes relatórios – já que, muitas vezes, o conteúdo dos mesmos é confundido – adotou-se o seguinte critério: “Relatório Anual e de Sustentabilidade” = RAN.
A pesquisa se restringe a documentos direcionados aos usuários em língua portuguesa. O Formulário 20-F, por se tratar de uma exigência da U.S. Securities and Exchange Comission (SEC) – e não da CVM – não foi incluído na pesquisa, além de, muitas vezes, se tratar de um documento emitido pelas companhias somente em língua inglesa.
Conforme supracitado, 38 companhias fazem parte do ISE para a carteira de ações do ano de 2011, oriundas de setores e atividades principais diversificadas. Não existem critérios restritivos do âmbito de atuação destas empresas para fins de elegibilidade ao Índice – desde que respeitados os critérios de sustentabilidade elencados anteriormente – portanto, é natural perceber que não há maiores padronizações quanto à classificação setorial destas companhias, de forma geral. A Figura 4 ilustra a disposição destas empresas, em ordem alfabética de seus nomes de Pregão, e a respectiva Classificação Setorial, conforme denominação dada aos grandes setores pela BM&FBOVESPA:
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           Figura 4 – Disposição das empresas integrantes do ISE e Classificação Setorial
Fonte: Elaborado pelos autores.
Para tornar a leitura mais objetiva e verificar o número de ocorrência de termos, determinou-se o uso de nomenclatura específica para a coleta de informações nos respectivos relatórios, obtidos por meio virtual. Esta ação possibilita que sejam identificadas, ao longo de seu conteúdo, sentenças que conceituem o termo Sustentabilidade. Atendendo a este fim, são palavras-chave: Sustentabilidade; Sustentável; e Sustentáveis.
Um dos critérios de seleção do ISE baseia-se no conceito Triple Bottom Line; portanto, realizou-se, concomitantemente, pesquisa deste termo e termos análogos: Triple Bottom Line; TBL; e Tripé da sustentabilidade.
A fim de apresentar os resultados obtidos de maneira clara, sob forma de tabelas, optou-se pelo agrupamento das empresas da seguinte forma:
  • Grupo A – empresas do setor de Utilidade Pública;
  • Grupo B – empresas do setor Financeiro e Outros;
  • Grupo C – empresas dos setores de Material Básico, Bens Industriais e Construção;
  • Grupo D – empresas dos setores de Consumo (Cíclico e não Cíclico) e Telecomunicações.
Ainda subsidiariamente ao recurso da pesquisa documental, depois de contabilizadas as ocorrências nos relatórios financeiros já mencionados, textos de caráter conceitual foram identificados, ou seja, aqueles que exprimissem ideia sobre o que é a sustentabilidade, na opinião explícita de cada companhia, através dos registros nos documentos emitidos individualmente. A simples menção às diretrizes do Triple Bottom Line, por exemplo, não será considerada como conceituação.
Para a classificação de conceitos, quanto à atribuição de conteúdo a um ou outro autor, faz-se necessário estabelecer critérios.
a)    Relatório Brundtland – quando houver menção, direta ou indireta, inclusive sinônimos, de preocupação com as gerações futuras;
b)    Triple Bottom Line – quando houver menção, direta ou indireta, inclusive sinônimos, aos aspectos sociais, ambientais e econômicos, concomitantemente;
c)     Sustentabilidade Corporativa – quando houver menção, direta ou indireta, inclusive sinônimos, de criação de valor, visão no longo prazo e gerenciamento dos riscos inerentes ao desenvolvimento do TBL.
3.2  Limitações da Pesquisa
As fontes da presente pesquisa são, conforme dito anteriormente, alguns dos relatórios financeiros exigíveis e voluntários emitidos pelo universo de empresas estudado. O critério para estabelecer quais os documentos utilizados na pesquisa parte, especialmente, da relevância destes para uma pesquisa textual; portanto, o estudo se restringe aos documentos arbitrariamente escolhidos como mais adequados para o objetivo do trabalho restar alcançado.
Não há uma padronização rígida no conteúdo descritivo dos relatórios, especialmente daqueles emitidos voluntariamente; ou seja, há uma variação significativa tanto no aspecto qualitativo – já que, eventualmente, algumas companhias estudadas preferem divulgar informações e posicionamentos de sustentabilidade de maneira mais aprofundada por outros meios, por exemplo, através do site oficial ou marketing em geral – como quantitativo, advindo do caráter optativo de divulgação de relatórios voluntários; portanto, haverá divergência quanto ao número de fontes para a pesquisa feita em cada empresa.
Outra limitação da pesquisa recai na tempestividade das empresas para divulgação dos relatórios voluntários: devido ao caráter não exigível destes documentos, assume-se o risco de não existirem fontes documentais para a pesquisa; desta vez, não por inexistência, mas pela ausência de tempo hábil para disponibilização destes nos meios de divulgação pelas companhias, no momento da coleta de dados para a presente monografia. Quanto à pesquisa e pareceres sobre os conceitos emitidos pelas empresas, está-se diante de outra limitação: afirmar se uma empresa conceitua satisfatoriamente ou não o termo “sustentabilidade” ou “desenvolvimento sustentável” é um julgamento amplamente subjetivo, assim como determinar semelhanças entre um e outro conceito e, especialmente, associar um texto emitido por determinada companhia às ideias conceituais de algum autor – exceto se expressamente afirmado, quando nas ocorrências de citações diretas e/ou indiretas. O estudo se sujeita, portanto, à subjetividade dos resultados apresentados.
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
4.1  Análise dos Relatórios Obrigatórios
Dentre os relatórios exigíveis pela CVM, ou seja, Notas Explicativas (NE), Relatório da Administração (RAD) e Formulário de Referência (FR), para cada um deles, pesquisou-se o número de ocorrências para os termos do Triple Bottom Line (TBL), Sustentabilidade (STB) e Sustentável(is) (STV), conforme apresentado nas tabelas a seguir:
  • Grupo A – Utilidade Pública
Tabela 1:
Ocorrências dos termos nos RF Obrigatórios para o Grupo A.
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             Fonte: Elaborado pelos autores.
  • Grupo B – Financeiro e Outros
Tabela 2:
Ocorrências dos termos nos RF Obrigatórios para o Grupo B.
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Fonte: Elaborado pelos autores.
  • Grupo C – Material Básico, Bens Industriais e Construção
Tabela 3
Ocorrências dos termos nos RF Obrigatórios para o Grupo C.
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Fonte: Elaborado pelos autores.
  • Grupo D – Consumo (Cíclico e Não Cíclico) e Telecomunicações
Tabela 4
Ocorrências dos termos nos RF Obrigatórios para o Grupo D.
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Fonte: Elaborado pelos autores.
É possível constatar que tais termos aparecem, em menor freqüência, nas NE; em diversos casos não há ocorrência alguma. No Grupo D, por exemplo, apenas a empresa BRF Foods utilizou duas das palavras-chave pesquisadas – sustentável e sustentável(is) – em seus textos nas NE. Não houve referência alguma ao TBL neste relatório, para nenhuma companhia do ISE. O RAD é a DFP que obteve maior número de ocorrências dos termos pesquisados. Na empresa Telemar, “sustentabilidade” foi mencionada 28 vezes pela Administração da companhia. Menções ao Triple Bottom Line – constante na metodologia para seleção de empresas no ISE – também não são comuns. O FR, demonstração financeira exigível apenas a partir de 2009, dentre o rol das obrigatórias utilizadas na pesquisa, é a que apresenta o uso dos termos de forma mais frequente. A Suzano Papel, por exemplo, menciona 44 vezes a palavra “sustentabilidade” neste relatório. Poucas vezes houve menções diretas ao Triple Bottom Line.
4.2  Análise dos Relatórios Voluntários
Procedeu-se da mesma forma para os relatórios de caráter voluntário. São eles: Relatório Anual (RAN), Relatório de Sustentabilidade (RS) e Balanço Social (BS). Os mesmos termos foram buscados – Triple Bottom Line (TBL), Sustentabilidade (STB) e Sustentável(is) (STV) – e suas repetições contabilizadas nos relatórios emitidos voluntariamente pelas companhias. Eventuais campos em branco se dão em decorrência de uma ou mais hipóteses a seguir:
1)    As empresas podem emitir Relatório Anual e Relatório de Sustentabilidade. No entanto, com bastante frequência as empresas optam por divulgar um relatório único, muitas vezes, que compreenda características de ambos os relatórios. Das 38 empresas, 18 companhias divulgaram somente RAN e 16 companhias divulgaram somente RS. Apenas três companhias divulgaram RAN e RS, simultaneamente. São elas: Bradesco; Eletrobrás; Tim Part. S/A.
2)    Campos em branco para Balanço Social podem significar que a empresa nunca divulgou BS ou a empresa costumava divulgar BS, mas não emite mais informações referentes a esta demonstração financeira nestes moldes.
A empresa Coelce, até o momento da coleta dos dados, não havia apresentado em seu site oficial nenhum destes três documentos referentes ao ano de 2010.
  • Grupo A – Utilidade Pública
               Tabela 5:
                 Ocorrências dos termos nos RF Voluntários para o Grupo A.
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Fonte: Elaborado pelos autores.
  • Grupo B – Financeiro e Outros
Tabela 6:
Ocorrências dos termos nos RF Voluntários para o Grupo B.
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Fonte: Elaborado pelos autores.
  • Grupo C – Material Básico, Bens Industriais e Construção
Tabela 7:
Ocorrências dos termos nos RF Voluntários para o Grupo C.
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Fonte: Elaborado pelos autores.
  • Grupo D – Consumo (Cíclico e Não Cíclico) e Telecomunicações
Tabela 8:
Ocorrências dos termos nos RF Voluntários para o Grupo D.
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Fonte: Elaborado pelos autores.
Nenhuma empresa deixou de citar “sustentabilidade” e “sustentável (is)” neste relatório. A redundância dos termos sustentabilidade e sustentável (is) é ainda mais evidente no RS: o primeiro termo é explícito, inclusive, no próprio título do documento. Nas companhias Fibria e Vale, a palavra “sustentabilidade” é reproduzida em seus Relatórios de Sustentabilidade 178 vezes. O BS, por outro lado, não possui ocorrências: sem dúvida, é uma demonstração complementar de relevância considerável, todavia, expressa seus resultados na forma de Balanço sem a utilização dos termos da pesquisa na composição de seus itens. Sua maior ocorrência, nesta pesquisa, foi como parte de Relatório de Sustentabilidade.
4.3  Análise dos Conceitos de Sustentabilidade
Todas as empresas destacam a sustentabilidade como um valor importante, declaram fazer partes do ISE e, em boa parte das vezes, mencionam aspectos do Triple Bottom Line. No entanto, nem sempre definem exatamente o que seria a sustentabilidade.
Em números absolutos, o setor de Utilidade Pública é o que mais conceitua o termo em seus relatórios – em 9 de 13 companhias. Todas as companhias de Telecomunicações e de Construção apresentaram definições nos conteúdos de seus relatórios. No setor de Consumo, apenas uma, de três companhias, não conceituou. De Materiais Básicos, 3 de 7 não conceituam e as companhias do setor Financeiro e Outros, em números absolutos, conceituam menos: não foram identificados textos com definições neste sentido em 5 de 9 empresas.
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Figura 5 – Conceitos e autores em Sustentabilidade
Fonte: Elaborado pelos autores.
Quanto às referências para os conceitos de Sustentabilidade, buscou-se a identificação de elementos nos conceitos das empresas – reproduzidos aqui de forma fiel, conforme texto encontrado em um ou mais relatórios de cada empresa – para relacioná-los com as três referências dispostas na Figura 5.
a)    Relatório Brundtland
Para afirmar a relação de conceitos como semelhantes – ou idênticos – ao Relatório, procedeu-se de forma a analisar se a própria companhia comunicava, em seus textos, conceituações com a respectiva referência:
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Figura 6 – Menção direta ao Relatório Brundtland.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Mesmo conceito foi utilizado por mais duas companhias, no entanto, sem menção direta à autoria da ideia implícita no conteúdo. Foi possível fazer esta relação nestes dois casos, mediante o uso da ideia de “gerações futuras”:
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Figura 7 – Menção indireta ao Relatório Brundtland.
Fonte: Elaborado pelos autores.
b)    Triple Bottom Line
O conceito mais difundido entre as empresas. Desta vez, os elementos identificadores estão na menção a aspectos sociais, ambientais e econômicos, concomitantemente.
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Figura 8 – Menção indireta ao TBL.
Fonte: Elaborado pelos autores.
c)     Sustentabilidade Corporativa
É possível afirmar uma clara influência do Triple Bottom Line no conceito de sustentabilidade corporativa. No entanto, há evidente diferenciação quanto à ótica corporativa deste conceito somada ao elemento identificador adicional: a ideia da companhia adquirir, ou criar, valor com este posicionamento. Ainda, menção à visão de longo prazo e reconhecimento dos riscos inerentes ao posicionamento do TBL.
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Figura 9 – Menção indireta ao DJSI
Fonte: Elaborado pelos autores.
Indiretamente, e mesmo sem qualquer menção, é possível fazer relação com mesma autoria nestes casos, mediante identificação dos aspectos citados anteriormente. A Light S/A aparece novamente (vide Figura 8) pois emitiu dois conceitos, com alguma distinção, sobre sustentabilidade. Vê-se, na empresa Vivo um caso em que o conceito da empresa está, explicitamente, vinculado ao autor, conforme Figura 10: 
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Fonte: Elaborado pelos autores.Figura 10 – Menção direta ao DJSI.
d)    Múltiplas Referências
Não há impedimentos quanto a uma mesma empresa utilizar idéias de dois ou mais autores nas suas conceituações. Esta hipótese foi observada em duas empresas. A Tim Part. S/A apresenta referenciais interligados às três autorias, simultaneamente; o conceito de sustentabilidade, na empresa Cesp, possui elementos do Triple Bottom Line e Relatório Brundtland. Não se considera referência múltipla quando houver fusão do DJSI e TBL, visto que o segundo já faz parte, implicitamente, do primeiro.
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Figura 11 – Conceitos com múltiplas referências.
Fonte: Elaborado pelos autores.
e)     Referências não identificadas
Assume-se o risco das empresas apresentarem conceito próprio, todavia, sem quaisquer referências às fontes previamente analisadas. É o caso das seguintes companhias:
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Figura 12 – Conceitos com referências não identificadas.
Fonte: Elaborado pelos autores.
A empresa Cemig associa sustentabilidade a um conceito breve, sobre “atuação pelo bem comum”. Poderia aproximar-se do conceito Brundtland se houvesse menção às futuras gerações. Não foi identificado conceito abrangente de sustentabilidade pela empresa Even, restringindo-se ao que seria a sustentabilidade aplicada ao seu ramo de atuação. A Fibria apresenta conceito duplo: num primeiro momento, afirmou e atribuiu o conceito de sustentabilidade ao Relatório Brundtland, ao citá-lo diretamente em seu Relatório de Sustentabilidade (Figura 6); neste mesmo relatório, por conseguinte, apresentou nova opinião sobre o que seria a sustentabilidade, desta vez, associando a ações específicas. No caso da Suzano, há menção literal ao Triple Bottom Line na sua definição; no entanto, afirma que a sua essência – capacidade de renovação – ultrapassa o TBL, sem atribuir maiores referências.
5.CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Os resultados da pesquisa mostram que as expressões relativas a sustentabilidade são encontradas com frequência, especialmente nos relatórios corporativos de natureza voluntária, ou seja, relatórios anuais e de sustentabilidade: o último, em especial, é aquele onde os termos “sustentabilidade”, “sustentável (is)” e os concernentes às diversas traduções do TBL são mais reproduzidos. Nas empresas Fibria e Vale, por exemplo, a palavra-chave “sustentabilidade” teve 178 ocorrências. Isso pode ser considerada uma quantidade expressiva, quando observado número de páginas desses documentos. Dessa forma, a média pode ultrapassar a uma ocorrência por página de um desses relatórios.
A redundância do termo nos textos inseridos nos relatórios financeiros obrigatórios e voluntários – especialmente na segunda situação – nem sempre pode significar que as empresas apresentam definições para estas palavras: das 38 companhias, 15 não apresentaram nenhum tipo de conceituação para a sustentabilidade, restringindo-se a enumerarem metas e resultados neste sentido. Ou seja, o usuário da informação toma conhecimento da posição da empresa diante o tema, mas não logra êxito no sentido de entender, na opinião da administração, o que significa sustentabilidade.
A CMMAD, de 1983, foi a comissão precursora da sustentabilidade, ao difundir o conceito de “desenvolvimento sustentável” na sua obra-resultado, “Nosso Futuro Comum”, ou “Relatório Brundtland”. Apesar de pouco recente, este conceito histórico ainda é bastante utilizado na literatura geral, inclusive nos relatórios corporativos. Tal fato é comprovado diante da constatação de que 4 companhias, das 38 estudadas, utilizam elementos referenciais deste conceito na elaboração de seus próprios – duas delas atribuem, expressamente, ao Relatório Brundtland o significado de sustentabilidade.
O Triple Bottom Line, assim como diversas outras visões de sustentabilidade, tem sua essência originada na perspectiva de desenvolvimento sustentável anteriormente difundida. No entanto, segue num campo mais prático e apresenta a ótica de sustentabilidade na organização no momento em que se promove este desenvolvimento sustentável, pautado no equilíbrio de três elementos: social, ambiental e econômico. Sendo esta a referência abordada pela metodologia do índice de sustentabilidade comum as 38 empresas objetos de estudo, alguma manifestação sobre este conceito, por parte das companhias, era esperada, uma vez que o êxito neste aspecto é fator crucial para que estas integrem nesta carteira de ações específica. O GRI, modelo difundido internacionalmente como parâmetro para relatórios corporativos relacionados à sustentabilidade, também segue estes preceitos. O resultado, portanto, é que as ocorrências de palavras-chave para sustentabilidade são frequentes, porém, algumas empresas não julgaram relevante incluir sua opinião sobre o que seria o desenvolvimento sustentável.
Embora a nomenclatura do Relatório de Sustentabilidade seja sugestiva, não foi este o único recurso das empresas para abordar este assunto: as DFP também apresentaram conceitos, a exemplo das empresas Coelce (NE), Copel (RAD) e Telemar (RAD). Ainda no âmbito das exigibilidades, foram identificadas conceituações no FR das seguintes empresas: AES Tietê, BRF Foods, Tim Part S/A e Suzano. Em 13 momentos, os RS foram instrumento para expressar a opinião do que seria sustentabilidade para as seguintes empresas: Fibria, Anhanguera, Bicbanco, Light S/A(por duas vezes), Telemar, Energias BR, Santander, Vale, Cesp, Even, Fibria e Suzano. Em relatórios anuais, para a Copasa, Brasil, BRF Foods, Sul America, CPFL, Vivo e Cemig. Destaca-se que as empresas BRF Foods, Telemar e Suzano manifestam-se por meio de dois relatórios de forma simultânea; no entanto, com conteúdos idênticos.
Embora este estudo tenha abordado, simultaneamente, a análise da frequência com que estes termos aparecem em seus relatórios e a emissão ou não de uma opinião conceitual sobe o que seja a sustentabilidade, não há como concluir qualquer relação entre estas duas análises. Empresas que não conceituaram sustentabilidade e somente se limitaram a apresentar seus resultados de forma prática, também o fizeram de forma a mencionar as palavras-chave na pesquisa com bastante frequência.
É possível afirmar que a posição de uma empresa como integrante de um índice de sustentabilidade agrega valor à sua imagem; portanto, espera-se que os resultados futuros no âmbito da sustentabilidade pelas empresas, de forma geral, convertam-se em linha crescente.
Portanto, os resultados deste estudo, paralelamente, sugerem que seja esta a imagem que todas as companhias queiram passar aos seus investidores e interessados: a sustentabilidade como essência nas suas atividades. Recomenda-se, para trabalhos posteriores, a análise de outros ciclos do ISE neste mesmo sentido; ou, ainda, uma análise comparativa com empresas listadas em outros índices de sustentabilidade, como o próprio DJSI, a fim de confrontar os resultados, tanto na frequência do uso de termos de sustentabilidade em relatórios financeiros, quanto nos conceitos apresentados sobre este tema.
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Crédito da foto destacada: Bruno Canto Carlos

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CLIPPING DE 09/06/2013

A atualidade do ecodesenvolvimento:
“Deveríamos incluir explicitamente na definição do desenvolvimento a dimensão ecológica, subsumida no prefixo ‘eco’”, diz Ignacy Sachs.
Por Ignacy Sachs*
Acabo de consultar a edição eletrônica do dicionário francês Grand Robert e dei uma espiada no Novo Aurélio – Século XXI (5ª impressão, 1999). Nenhum dos dois menciona o termo “ecodesenvolvimento”, neologismo relativamente recente, que surgiu à margem da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente reunida em Estocolmo, em 1972.
Penso que este neologismo se justifica pelo fato de que, mais do que em qualquer outro momento da já longa presença da nossa espécie no planeta Terra, deveríamos incluir explicitamente na definição do desenvolvimento a dimensão ecológica subsumida no prefixo eco”. Isto em vista do perigo que representam para o futuro das civilizações humanas mudanças climáticas deletérias devidas ao aquecimento global provocado por emissões excessivas de gás carbônico de origem antropogênica.
Convém, portanto, pensar o desenvolvimento como um conceito tridimensional. Seus objetivos são sempre éticos e sociais. No entanto, para que sejam alcançados, é necessário dar-lhes viabilidade econômica, precavendo-se ainda, como já foi dito, contra mudanças climáticas deletérias, pelo menos as provocadas por ações humanas que estão, portanto, sob nossa responsabilidade.
Acredito que o termo “ecodesenvolvimento” merece, portanto, um lugar permanente no nosso vocabulário como sinônimo e abreviação do desenvolvimento socialmente includente e ambientalmente sustentável. Constitui um passo para a frente, na medida em que adiciona explicitamente a dimensão ecológica ao social e ao econômico.
A quarta dimensão, subentendida, é a política, já que a gestão da economia implica necessariamente decisões de caráter político. Vale a pena lembrar a este respeito que, nas línguas de origem latina, damos preferência ao termo “economia política” em oposição ao anglo-saxão “economics”.
O ecodesenvolvimento se contrapõe ainda a diferentes formas de mau desenvolvimento: crescimento econômico acompanhado de impactos sociais e ambientais negativos. De uma maneira geral, deixando de lado as situações de não crescimento econômico (e, portanto, de regressão em termos per capita enquanto a população continua a crescer), podemos distinguir os dois casos-limite:
  • crescimento econômico virtuoso acompanhado de impactos sociais e ambientais positivos (o ecodesenvolvimento);
  • crescimento econômico com impactos sociais e ambientais negativos – o mau desenvolvimento, que alguns preferem chamar de crescimento perverso.
Entre os dois, figuram os casos intermediários. Durante as três décadas que se seguiram ao fim da Segunda Guerra Mundial, tivemos, em vários países, um crescimento econômico rápido, com consequências sociais globalmente positivas, ainda que fortemente diferenciadas, mas com um custo ambiental excessivamente alto.
Tampouco podemos excluir configurações caracterizadas por impactos ambientais sob controle, porém acompanhadas de polarização social excessiva, deixando à margem do progresso grupos populacionais importantes – camponeses sem terra, favelados e todos aqueles que, por falta de conhecimento e de sorte não conseguem inserir-se na economia moderna e são obrigados a lutar pela sobrevivência em condições precárias.
Olhando para o futuro, convém reservar o termo “desenvolvimento includente e sustentável” unicamente a situações com a presença simultânea das três características seguintes:
  • crescimento econômico por enquanto superior à taxa de crescimento demográfico, lembrando que esta última tende felizmente a se reduzir, graças aos progressos da educação e das políticas sociais; e considerando, por outro lado, que a passagem à economia estacionária só será factível depois de termos drasticamente reduzido as diferenças abissais de nível de vida que ainda imperam no mundo de hoje;
  • impactos sociais positivos graças à geração de oportunidades de trabalho decente em número suficiente e à existência de um conjunto de políticas sociais abrangendo a totalidade da população; não podemos por enquanto abrir mão do conceito de pleno emprego, nem tentar lográ-lo unicamente pela redução do tempo de trabalho dos já empregados;
  • redução de impactos ambientais negativos, mitigados por políticas ambientais dos Estados desenvolvimentistas, com destaque para a geração da energia, já que o aquecimento global está vinculado à utilização das energias fósseis.
A transição para o ecodesenvolvimento está ao nosso alcance. Por que não encarregar as Nações Unidas da formulação de um plano mundial de desenvolvimento includente e sustentável?
*O ecossocioeconomista Ignacy Sachs é professor emérito da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, de Paris, França.
Artigo publicado originalmente na revista Rumos, edição de janeiro-fevereiro de 2013.